segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte V

Um adulto jovem me procurou para fazer psicoterapia, sua mulher o havia traído com seu melhor “amigo”. Em quase todas as seções tecia em detalhes uma nova e bem arquitetada trama de como eliminar a esposa. As mesmas consistiam de simulações de acidentes, cortar-lhe os mamilos com alicate, a injetar-lhe sangue com aids. O mais bizarro nessa dupla traição, e que ele nunca manifestou para o “amigo” a sua decepção, o tratava como se nada tivesse acorrido. Enfim, enquanto esteve comigo não concretizou suas intenções macabras, nem soube nada ao seu respeito no noticiário.

O macho tem dificuldades de repensar sua postura e, na maioria das vezes, degringola a parceira. Cuschnir e Mardegan Jr. (2001), chamam a atenção para o fato de que o homem nota que há aspectos da relação que precisam ser renovados, mas não sabe tomar a iniciativa. Falta a ele uma certa flexibilidade para compreender a companheira. (p. 169). Por certo, se alguém não cumpriu a contento o seu papel, não foi esse camarada “completo por natureza” e agraciado pela cultura. E sim, a mulher, o “oceano negro” a quem Freud atribuiu, ou se interroga sobre “o que ela quer?”. Entretanto, é esse ser freudiano indecifrável que nos últimos tempos reivindica direito, se qualifica e galga, cada vez mais, espaços de trabalho. Está se descolando do subjugo do macho, quebrando as amarras que a mantinha “cativa”. Lipovetsky (2000), diz que doravante livres, as mulheres são mais acessíveis como parceiras sexuais, mas, ao mesmo tempo, mais intimidantes, mais ameaçadoras para o homem. Muitos homens não compreendem mais o que as mulheres esperam deles.(p.58).

Do mesmo modo a pós-mulher, a exemplo de M. Dowd, colunista do New York Times, que afirma ser muito difícil para as mulheres decifrar o que os homens querem com elas. (Veja Especial, 2006). O homem parece bem mais complicado na seleção da parceira, um simples detalhe que não goste na mulher pode levá-lo a se desinteressar por ela. Talvez pelo fato de ser mais visual, qualquer item pesa na composição do seu desejo como um todo, e também pela grande disponibilidade do sexo oposto. A mulher mesmo que considere uma característica desfavorável num pretendente, parece tolerar mais, não se deixar eclipsar por ele. Consegue ir adiante e identificar algo positivo que se contraponha, de forma que não esvazia, pelo menos num primeiro momento, seu interesse pelo indivíduo. As mulheres são “escravas” do estético, e “se transformam naquilo que são na mente dos homens”(NIETZSCHE, 1900-2000). Todavia, não tão leais a esse senhor, o belo não lhes seriam, em tese, tão fundamental, mas a segurança seja material ou emocional dos parceiros. Para Lipovetsky (2000), mais que as mulheres, os homens esperam encontrar a beleza na sua parceira, conferem mais importância às qualidades estéticas, e isso em qualquer idade.(p.191).

Na concepção do macho a mulher se enquadra em apenas dois tipos: a) para casar: “direita”, de preferência virgem, assexuada, um clone da sua santa mãezinha para o domínio do lar e geração de prole; b) para o sexo: da rua (nem sempre profissional do sexo) que, se for “boa de cama” e prometer exclusividade, poderá ser um devir da outra, “filial” na sua vida. Para Wright (2006), o fato é que muitos homens ainda falam abertamente de “vagabundas” e de sua utilidade normal: ótimas para a gente se divertir, mas não para casar. E há mesmo homens (culto e liberais) que nem sonhariam dizer tal coisa, mas na realidade agem como os demais - grifos do autor.(p.13). Amantes e profissionais do sexo, talvez para atenuar sua condição desviante e inocentar os parceiros/clientes. Tentam convencer que os mesmos as procuram porque se ressentem da escuta, e elas acusam suas mulheres dessa indiferença. Uma espécie de “psicólogas” de alcova, papel pelo qual se envaidecem por considerar que desempenham muito bem. Porém, Goldenberg (1997) diz que a relação extraconjugal não significa absolutamente que existe uma falta no casamento. É uma presunção enorme das amantes achar uma falta para elas existirem - grifo nosso. (p.107).

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte IV

Mesmo assim, é o macho o ser social que mais têm direitos e reivindica vantagens, quando não na legalidade, os engendra na clandestinidade, de modo que não frustre suas vontades. Todo poder do homem, e do seu domínio sobre a mulher, por certo não advém da sua inteligência, mas do físico mais forte e da supervalorização social do pênis. Muraro (2002) entende que a masculinidade é definida como atividade; a atividade narcísica do pênis.(p.141). Deste modo, o atribuído poder de penetrador e de superioridade por cima da mulher, na relação sexual, generalizou e garantiu seu gozo fálico em todas as sociedades heterossexistas. Para Bourdieu (1998), a dominação masculina se dá na assimetria entre homens e mulheres, instituída na construção social. O ato sexual é pensado em função desse primado que se inscreve na série de oposições mítico-rituais: alto/baixo, em cima/em baixo, etc. (BOURDIEU, 2002).

O homem civilizado rejeita sua parte animal, no entanto, para legitimar sua promiscuidade e adultério, usa sem ressalva exemplos poligâmicos da fauna. Mas, “esquece” de uma variedade de espécies exclusivamente monogâmicas. Há registros de Darwin sobre cobras machas que perdem algum tempo com as fêmeas mortas antes de prosseguirem em busca das parceiras vivas (WRIGHT, 2006). Trair não é natural, somente pode haver traição quando, de forma direta ou não, se tenha algum compromisso ou investimento afetivo, relacional. Assim, pode-se dizer que os animais não traem. Mesmo acasalados, cruzam com todos que forem possíveis de encontrar no seu caminho. Não tem consciência de opção pela parceria, esta se dá pela oportunidade de aceso, e, no geral, em obediência ao ciclo reprodutor ou cio. Obviamente, não consideram uma série de itens subjetivos e preferenciais na escolha da parceira (o) como faz o bicho homem.

As pessoas assumem compromisso trabalhista, parceria comercial, e tentam cumprir essa promessa. Assim sendo, aceitam pagar multa quando quebram, por vontade própria ou por motivo de “força maior”, esse contrato. Porém, quando se trata do contrato afetivo (informal ou legalizado: casamento) não tem o menor pudor, geralmente não se preocupam de machucar o outro. A perda afetiva, da parte que não desejava a separação, raramente é “ressarcida”, nem que seja com um mínimo de consideração. Nenhum envolvimento com uma nova pessoa justifica que não se possa ter um cuidado com o outro preterido ou que está sendo “largado”. Geralmente os parceiros são desrespeitosos, cruéis e raivosos nos “términos” (aspado porque nem sempre termina quando separa) dos relacionamentos. O que é, no mínimo, pouco saudável, principalmente quando se tem filho (s).

No geral, o macho se enrosca com as perdas dos vínculos afetivos, age de maneira extremista, nega essa dor ou quer destruir a fonte do seu desprazer. O “ponto final” da mulher, nunca é visto como um “chega” aos seus abusos, mas, da suposta traição da mesma em andamento. Por centrar-se no sexual, ele fantasia no seu “lugar” um sujeito provedor dos mais intensos orgasmos. Não reflete suas atitudes, e ainda se auto-revela inseguro do desempenho sexual. As músicas com as quais o macho dá evasão a esse drama, a chamada “fossa”, etc., às vezes, sugere mais um estranho louvor ao dito Ricardão, do que o lamento pela perda real ou potencial daquela que, de repente, ressurge como “amada”. Isto parece confirmar o que diz Gambaroff (1991), em um sistema de casais heterossexuais, a homossexualidade latente de um pode impelir o outro a um relacionamento com um terceiro.(p.40). Será que esse homem, em nível inconsciente, não negligencia a mulher para ter, por meio dessa paranóia o outro (imaginado) através dela? Em alguns casos, em relação à mulher, pode até ser, mas a maioria dos homens as trai, mesmo, é por insegurança e abuso de poder.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte III

Em relação à parceira, Schopenhauer (1860-2004) diz que o amor do homem diminui sensivelmente a partir do momento em que obteve satisfação; quase qualquer outra mulher o excita mais do que aquela que já possui: ele anseia pela variedade.(p.22). No que é corroborado, de maneira machista e vulgar por Cushnir (2004) quando diz: é claro que um homem que está sempre com a mesma mulher olhará para outras e as achará mais interessantes. Se ele não tiver uma mulher que insufle aquele relacionamento o tempo todo, a tendência será “sair à caça”.(p.91). A mulher tem que produzir manobras, se transformar em mil personagens eróticos para não ser traída. Um objeto sexual em metamorfose para agradar, estimular e capturar o apetite do macho. As revistas populares femininas estão sempre repletas de “novas” e picantes sugestões para esse fim. O pior é que ela se submete e, geralmente, se libera mais na fantasia de prostituta - esta que pode ter o gozo pleno do “pecado” sem culpa -, crer que assim “abafa”, e ainda sela algum pacto de fidelidade do parceiro.

Enquanto isso o que os homens, ou melhor, os machos fazem? Continuam traindo, e “justificam suas traições por meios de uma suposta essência ou instinto masculino” (GOLDENBERG, 2004:91). Quando se tem sentimento, o desejo vem de dentro e tudo o mais é irrelevante. A inclusão de apetrechos, jogos, encenações, vídeos pornográficos ou um terceiro elemento, é porque o casal não tem ou perdeu o élan da relação. Agora, nada mais resta do que um amontoado de corpos, sem almas, tentando fabricar sensações. A união de duas pessoas desejosas é um universo particular de infinitas possibilidades, ou seja, se bastam na privacidade para se deliciarem da fluidez desse encontro.

No meu pensar, o homem trai, basicamente, em decorrência destes fatores: a) da insegurança advinda do fato de que a masculinidade é uma construção; b) do medo de se entregar aos afetos - que chamo afetos de intimidade: amor, paixão; c) da dificuldade de lidar com as ansiedades e frustrações que são intrínsecas ao afetivo-sexual; d) da cultura machista que, direta ou diretamente, o incentiva a partir de uma pretensa hiperpotência libidinal. Assim, quanto mais machista a sociedade, mais acentuados serão estes fatores. A fragilidade do masculino o faz necessitar do contato com outros homens, seu grupo de pares. Ficar junto à mulher (es) por muito tempo, de tão absorvente que é o feminino, o faz temer de que possa abrandar a “nitidez” do seu ser masculino. Por desconhecer esse traço a mulher encasqueta caraminholas, quando o parceiro a pretere pela mesa de bar e “pelada” com amigos, etc. “Às vezes, ser homem parece quase impossível e, para isso, é preciso apoio emocional de outros homens” (BIDDULPH, 2003:21). Ao invés de apoio emocional que significa “compartilhar sentimentos”, o que não é o caso, me parece mais adequado se referir a apoio presencial.

O lúdico do feminino, desde tenra idade, é um leque de sentimentos e emoções, quase um treino para a futura doméstica, esposa e mãe. Enquanto o menino, por causa da homofobia, desde cedo é tratado com rudeza, e suas brincadeiras são voltadas para exploração dos espaços e dinamizadas na agressividade e competição. À mulher é permitido se descabelar, ficar histérica, ao homem é vetado “ouvir” e se guiar pelo coração. Para ser macho, o homem tem que resolver tudo sozinho, aguentar a dor em silêncio para não ser tachado de frouxo. Bourdieu (2002) afirma que o privilégio masculino é também uma cilada e encontra sua contrapartida na tensão e contensão permanente, levadas por vezes ao absurdo, que impõe a todo homem o dever de afirmar, em toda e qualquer circunstância, sua virilidade.(p.75).

 Em razão disto, como dizem Cuschnir e Mardegan Jr. (2001) é que a máscara permite que o homem tenha diversas experiências na vida, porque ela poderá deixá-lo menos vulnerável internamente em determinadas situações, funcionando como uma espécie de “amortecedor”.(p.221). Por tudo isto, não é um contra-senso criticar o homem por não ter sensibilidade? Enfim, de tanto negar as emoções não é à toa que infartam mais que as mulheres. Isto é, nem sempre a máscara consegue atenuar o impacto da pressão para ser macho. Ao homem cabe somente liberar ou expressar emoções agressivas, potencialmente destrutivas, aí entra os excessos, a exemplo da bebida e das extravagâncias sexuais para se deleitar em comentários, mais tarde, junto aos parceiros. Segundo Biddulph (2002), os hormônios não servem de desculpa para a agressividade.(p.47). Logo, as ações que caracterizam os machões revelam cidadãos “nitroglicerinados”, e os policiais idem - quando excedem -, dando pancadas em estádios, etc. Stekel (1968) ressalta que os sujeitos “puxadores de briga” são, em geral, homossexuais que querem demonstrar a si mesmos a sua masculinidade e que, ao mesmo tempo, procuram a oportunidade de ter contato físico com homens.(p.192). A sua ausência de treino para aceitar limites superlota cemitérios e presídios. Porque, afinal, ser macho é não levar desaforo pra casa!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte II

Beauvoir (s/d) entende que a mulher não nasce mulher, mas se torna. Afirmativa sem consistência e estranha vinda de uma mulher, mas que o mundo acadêmico acatou como verdade. Entendo o processo de maturação da mulher como linear e nítido: a menarca, na qual a menina passa a ser moça; a perda do hímen, quando se torna mulher; a maternidade, a plenitude enquanto fêmea e, a menorpausa, quando encerra seu ciclo de fertilidade. Embora, neste último estágio, a mulher não seja culturalmente muito valorizada enquanto objeto sexual. No entanto, é a fase da vida onde as pesquisas apontam que ela está menos inculcada e mais ciente do próprio corpo e, como consequência, despojada para o prazer sexual. Diferente da mulher, além das características secundárias, o homem não passa por estágios bem demarcados que fortaleçam suas referências de gênero. Ao ingressar na vida sexual, estará, para sempre, sob o espectro da impotência sexual, flagelo que culmina na andropausa. Portanto, a masculinidade se constitui numa construção, não definitiva, mas, inacabada e, por vezes, insustentável.

No entender de Hegel (apud LIPOVETSKY, 2000) a subjetividade masculina se constrói no conflito inter-humano tendo em vista o reconhecimento e o prestígio.(p.305). Diria que o homem é, essencialmente, um ser em “falta”, inseguro, e por isto mesmo ele trai para se certificar da sua macheza, além do que separa sexo de afeto, e é livre para trair, pois as sociedades, devido a sua dupla moral, o autoriza. Baudrillard (2001) considera que o masculino sempre foi apenas residual, uma formação secundária e frágil que é preciso defender à força de supressões, de instituições e de artifícios.(p.21). Para assegurar a masculinidade, povos primitivos, a exemplo dos Sambia da Nova Guiné, submetem os adolescentes a ritos de passagem de extrema violência. Saturam seus limites físicos e os torturam para eliminar os fluidos femininos. Os fazem absorver o líquido masculino (esperma), para se tornarem machos (BADINTER, 1993), de forma bastante agressiva para provocar repulsa ao mesmo sexo.

O jovem urbano não passa por esses rituais, mas, não deixa de ser submetido a coerções diretas e as violências simbólicas no apartheid da identificação. Desde pequenos os meninos são obrigados a abandonar, sob pena de serem discriminados, toda e qualquer atitude que faça lembrar o feminino. Isto é, que não afirme ou confirme sua condição de macho. Brincar de boneca, nem pensar! Para o senso comum é a condição sine qua non, para a homossexualidade, ou seja, determinante. Esta, também é uma construção e não decorre, apenas, de atos isolados, mas, da conjunção de aspectos da dinâmica familiar e cultural, mas nunca de fatores restritamente biológicos. O preconceito, de tão arraigado, faz com que, o uso de brinco e cabelo comprido, pelos homens, embora frequentes nos nossos dias, ainda se lance “olhares meio atravessados” sobre sua masculinidade.

Lipovetsky (2000) entende que o feminino permanece fortemente orientado para o relacional, o psicológico, o íntimo, as preocupações afetivas, domésticas e estéticas; o masculino, para a “instrumentalidade”, o tecnocientífico, mas também para a violência e o poder.(p.303).  Na realidade, a masculinidade é uma couraça, homem não pode ser suave, não pode amolecer, tem que ser “pele grossa” – indivíduos de estrutura narcísica que se tornam insensíveis a sentimentos mais profundos.(ROSENFELD apud BRITTON, 2003). Sensibilidade é tida como coisa de mulher e de homossexual, entrar em contato com o seu sensível é arriscar a desmontar-se enquanto macho, perder esse poder. Um medo, na verdade infundado, de que venha a se efeminar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte I

As mulheres “cantam em coro”, praticamente, aos quatro cantos, que “todos os homens calçam quarenta”, ou seja, que são todos iguais. Assim sendo, “mudam apenas de endereço”. Porém, é preciso reconhecer que há um percentual, mínimo é verdade, mas que foge a regra, de sorte que é possível fazer uma pequena diferenciação. Na minha compreensão, o homem é o sujeito mais seguro de sua masculinidade, sem o desejo compulsório de se impor à busca de aventuras eróticas. Não se vulgariza de prontidão, confia, como dizem, no seu “taco”. Enquanto o macho, não necessariamente corpulento, este sim, apesar da pompa, é menos seguro, e, por isso mesmo, vive a espreita, não perde chance, é um “topa tudo” do tipo “caiu na rede é peixe”. Precisa provar para o mundo e, principalmente, se autoconvencer de que é macho, e para compor esse “figurino” não resiste aos, hoje, mines “rabos” de saias. É o protótipo do Don Juan, se julga objeto do desejo de toda mulher, acha que nenhuma é inume às suas investidas. Uma vez que, para ele não existe mulher difícil, mas, apenas, “mal cantada”. Deixa claro que não consegue controlar o impulso sexual, que sempre está irremediavelmente à mercê dos encantos do sexo oposto. Segundo Kierkegaard (apud BAUMAN, 2003) o prazer dele não é pela posse das mulheres, mas a sedução delas. Para Lipovetsky (2005), Don Juan está bem morto. Elevou-se uma nova figura muito mais inquietante: Narciso, subjugado por ele mesmo em sua cápsula de vidro.(p.16).

Discordo, um pouco, deste autor. Os sedutores estão bem vivos, apenas mudaram a composição da metralhadora giratória da sua sedução, o “face a face” com todo seu mise en scène, para o virtual - as atuais práticas do cibersexo levam até o fim essa ilusão: indivíduos sem corpos dialogam sem se ver, representando livremente suas identidades (BOZON, 2004) -, e o estético típico desta era de culto ao físico. Todos querem aparecer sarados na “vitrine das carnes”. A maioria “oca”, por vezes, coloca a própria vida em risco com o uso de anabolizantes, etc. O que difere, agora, é o esforço pelo físico perfeito que não se restringe a chamar apenas a atenção das mulheres, mas, também, para despertar nos outros homens admiração ou inveja como símbolo de imposição da estampa viril.

Narciso ou Don Juan, parece não ter saído da fase inicial da adolescência, carece de confiança na própria masculinidade. Em suma, o homem reage por alguns princípios éticos, e o macho, mais primitivo, pouco lapidado, se orienta pelas vantagens. Isto posto, tudo que neste texto diz respeito ao homem, em relação ao macho é potencializado.