quinta-feira, 3 de março de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte VIII

Ninguém completa ninguém, mas a mulher parece persistir nessa onipotência para com o parceiro. Justo ele que traz consigo o germe da falta, da divisão e o aval social para o adultério!? Quando o homem trai, o que é complicado para a mulher entender, isso não significa, necessariamente, que ele deixou de gostar ou de amar a parceira. No entanto, nem por isso o masculino deve fazer uso dessa condição. A traição causa sofrimento, um homem sensato, humano não vai magoar a parceira à toa, não tem ou domina a tal necessidade de auto-afirmação. O homem, em particular o latino machista, quer tudo ao mesmo tempo, tanto a segurança de casado quanto à liberdade “nômade” de solteiro. O mais contrastante é que jamais cogita para parceira tais expedientes.

Com pertinência Bauman (2005a), diz que o desejo de amar e ser amado só pode se realizar na genuína disposição a comprometer a própria liberdade, caso necessário, para que a liberdade da pessoa amada não seja violada.(p.69). Ou seja, qualquer forma de casamento não combina com gandaia, de algum modo tem que se abdicar, está bem consigo para não ansiar por essa “liberdade”. A mulher tende a ser irrestrita na entrega. Assim, quando se descobre traída, se sente rebaixada na sua auto-estima como a última das criaturas. As adúlteras que até então atendi, tendo ou não sido traídas, todas, de alguma maneira se sentiam “putas”. Como se esperassem ser condenadas, logo ficavam surpresas quando lhes perguntava o preço que haviam cobrado por programa. Assim, parecia se sentirem compreendidas de que seu delito não era o dos piores crimes. O remorso vivenciado era prova de que seu feito (adulterar) não fora banal. E a culpa, mesmo depois de algum tempo, “insistia” em permanecer, por vezes, sutilmente camuflada.

Goldenberg (2004) diz que a mulher, mesmo quando trai, continua se percebendo como uma vítima, que no máximo reage à dominação masculina.(p.92). Minhas pacientes se apaixonaram ou forjaram a paixão, como meio para justificar a traição e encorajá-las a trair. Sendo ou não uma vontade latente, nestes casos, a traição consistiu numa vingança para resgatar a estima. Mesmo se dizendo apaixonadas, nenhuma, até onde as acompanhei, deixou o marido. Porém, quando a mulher se apaixona, de fato, pelo sonhado “homem da sua vida” e é correspondida, muda de figura. Daí, a traição feminina tender a ser mais arriscada, uma vez que, mais do que irresponsabilidade, atua a fusão sexo/paixão que para mulher, em geral, é difícil separar. Estes casos são mais raros de vir ao psicólogo (a), pois, os amantes logo embarcam na perspectiva deste “achado”.