sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte III

Em relação à parceira, Schopenhauer (1860-2004) diz que o amor do homem diminui sensivelmente a partir do momento em que obteve satisfação; quase qualquer outra mulher o excita mais do que aquela que já possui: ele anseia pela variedade.(p.22). No que é corroborado, de maneira machista e vulgar por Cushnir (2004) quando diz: é claro que um homem que está sempre com a mesma mulher olhará para outras e as achará mais interessantes. Se ele não tiver uma mulher que insufle aquele relacionamento o tempo todo, a tendência será “sair à caça”.(p.91). A mulher tem que produzir manobras, se transformar em mil personagens eróticos para não ser traída. Um objeto sexual em metamorfose para agradar, estimular e capturar o apetite do macho. As revistas populares femininas estão sempre repletas de “novas” e picantes sugestões para esse fim. O pior é que ela se submete e, geralmente, se libera mais na fantasia de prostituta - esta que pode ter o gozo pleno do “pecado” sem culpa -, crer que assim “abafa”, e ainda sela algum pacto de fidelidade do parceiro.

Enquanto isso o que os homens, ou melhor, os machos fazem? Continuam traindo, e “justificam suas traições por meios de uma suposta essência ou instinto masculino” (GOLDENBERG, 2004:91). Quando se tem sentimento, o desejo vem de dentro e tudo o mais é irrelevante. A inclusão de apetrechos, jogos, encenações, vídeos pornográficos ou um terceiro elemento, é porque o casal não tem ou perdeu o élan da relação. Agora, nada mais resta do que um amontoado de corpos, sem almas, tentando fabricar sensações. A união de duas pessoas desejosas é um universo particular de infinitas possibilidades, ou seja, se bastam na privacidade para se deliciarem da fluidez desse encontro.

No meu pensar, o homem trai, basicamente, em decorrência destes fatores: a) da insegurança advinda do fato de que a masculinidade é uma construção; b) do medo de se entregar aos afetos - que chamo afetos de intimidade: amor, paixão; c) da dificuldade de lidar com as ansiedades e frustrações que são intrínsecas ao afetivo-sexual; d) da cultura machista que, direta ou diretamente, o incentiva a partir de uma pretensa hiperpotência libidinal. Assim, quanto mais machista a sociedade, mais acentuados serão estes fatores. A fragilidade do masculino o faz necessitar do contato com outros homens, seu grupo de pares. Ficar junto à mulher (es) por muito tempo, de tão absorvente que é o feminino, o faz temer de que possa abrandar a “nitidez” do seu ser masculino. Por desconhecer esse traço a mulher encasqueta caraminholas, quando o parceiro a pretere pela mesa de bar e “pelada” com amigos, etc. “Às vezes, ser homem parece quase impossível e, para isso, é preciso apoio emocional de outros homens” (BIDDULPH, 2003:21). Ao invés de apoio emocional que significa “compartilhar sentimentos”, o que não é o caso, me parece mais adequado se referir a apoio presencial.

O lúdico do feminino, desde tenra idade, é um leque de sentimentos e emoções, quase um treino para a futura doméstica, esposa e mãe. Enquanto o menino, por causa da homofobia, desde cedo é tratado com rudeza, e suas brincadeiras são voltadas para exploração dos espaços e dinamizadas na agressividade e competição. À mulher é permitido se descabelar, ficar histérica, ao homem é vetado “ouvir” e se guiar pelo coração. Para ser macho, o homem tem que resolver tudo sozinho, aguentar a dor em silêncio para não ser tachado de frouxo. Bourdieu (2002) afirma que o privilégio masculino é também uma cilada e encontra sua contrapartida na tensão e contensão permanente, levadas por vezes ao absurdo, que impõe a todo homem o dever de afirmar, em toda e qualquer circunstância, sua virilidade.(p.75).

 Em razão disto, como dizem Cuschnir e Mardegan Jr. (2001) é que a máscara permite que o homem tenha diversas experiências na vida, porque ela poderá deixá-lo menos vulnerável internamente em determinadas situações, funcionando como uma espécie de “amortecedor”.(p.221). Por tudo isto, não é um contra-senso criticar o homem por não ter sensibilidade? Enfim, de tanto negar as emoções não é à toa que infartam mais que as mulheres. Isto é, nem sempre a máscara consegue atenuar o impacto da pressão para ser macho. Ao homem cabe somente liberar ou expressar emoções agressivas, potencialmente destrutivas, aí entra os excessos, a exemplo da bebida e das extravagâncias sexuais para se deleitar em comentários, mais tarde, junto aos parceiros. Segundo Biddulph (2002), os hormônios não servem de desculpa para a agressividade.(p.47). Logo, as ações que caracterizam os machões revelam cidadãos “nitroglicerinados”, e os policiais idem - quando excedem -, dando pancadas em estádios, etc. Stekel (1968) ressalta que os sujeitos “puxadores de briga” são, em geral, homossexuais que querem demonstrar a si mesmos a sua masculinidade e que, ao mesmo tempo, procuram a oportunidade de ter contato físico com homens.(p.192). A sua ausência de treino para aceitar limites superlota cemitérios e presídios. Porque, afinal, ser macho é não levar desaforo pra casa!