segunda-feira, 7 de março de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte XII

Na minha visão, é tão falso dizer que o homem é forte, quanto afirmar que a mulher é frágil. Na realidade, frágil é o homem, não um frágil simplório, mas paradoxal. Talvez, devido a essa fragilidade, tenha usado seus recursos naturais e criado mecanismos sociais e culturais para sua dominação. Cuschnir e Mardegan Jr. (2001), dizem que o novo homem deve aprender a retomar as máscaras que ele usou e passar a usá-las apenas para proteger sua alma. Esta é a finalidade da revolução silenciosa: novas máscaras para a alma masculina.(pp.213-214). Esta conclusiva é um absurdo, simplesmente ridícula. Então, o homem não pode viver sem máscara? Que revolução é essa em que o sujeito continua mascarado? A mudança efetiva emergirá quando o homem se desprender das mentiras que o trancafia no seu próprio corpo, bem como se despir das exigências que fazem dele uma fortaleza virtual.

Para Muraro (2002), só os poetas, os místicos - aqueles que integram mente e corpo -, dentre os homens são os que têm aceso à mulher.(p.194). Outra bobagem, a posição social da mulher não tem a ver com sensibilidade, é uma questão estrutural ligada aos direitos. Prova disso é que, de posse do poder as mulheres atuam com a mesma dureza do masculino. Elas ainda não reagiram para dissipar a polaridade dominador/dominado que, de modo geral, parecem fixadas no modelo que traduz machismo como “força” e “segurança”. Como diz Bourdieu (1998) a educação exerce uma ação psicossomática que leva à dominação masculina.(p.18). Assim, os homens não machistas, por vezes, são preteridos. Já atendi alguns com tremenda inveja dos cafajestes. Diziam que estes são os que fazem sucesso com as mulheres, pois “aprontam”, e elas continuam “loucas” por eles. Portanto, um tipo a ser seguido. Difícil para eles, foi aceitar que tais preferências não consistem em regra. As mulheres independentes, experientes e, realmente, “resolvidas”, são pouco atraídas ou não sentem nenhuma atração por homens machistas e/ou cafajestes.

No entender de Bauman (2005a) em nossa época líquida-moderna, em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, “estar fixo” - ser “identificado” de modo inflexível e sem alternativa – é algo cada vez malvisto.(p.35). Por isso, recentemente surgiu nos Estados Unidos, um projeto de contratos de casamento renováveis, a cada dois anos, que atrai o público. Para Savage (apud BAUMAN, 2005b), as relações renováveis podem ser a resposta, para aqueles que se sentem cada vez mais desconfortáveis diante do compromisso social.(p.152). Ainda segundo Bauman (idem), as relações a partir da amizade poderiam transformar-se em nossas tábuas de salvação, e que o “encontro veloz” (uma espécie de esteira de bagagem dos encontros), é apenas um de uma série crescente de estratagemas oferecidos no mercado das “relações humanas”.

Finalmente, o poderio machista nunca deixou de existir “o homem é o futuro do homem e o poder masculino, o horizonte insistente dos tempos democráticos”. (LIPOVETSKY, 2000:305). Embora, os privilégios sexuais masculino não tenham sido totalmente rompidos, mas existem agora abundantes evidências de que não sejam inevitáveis nem imutáveis (WEEKS, 2001). Sem dúvida homens e mulheres são vítimas de um padrão de vida e relacionamentos que precisam de uma revisão drástica (BIDDULPH, 2003). Mas, vale salientar que o machismo é resultante das posturas e necessidades da mulher, que é gerido pela suas atitudes enquanto mãe e professora primária, que fomentam a base da formação psíquica da criança. Na verdade, a mulher termina sendo a maior vítima da sua criação. Ainda embevecidas com as conquistas recém adquiridas, elas também se sustentam no fálico (modelo masculino), o que emperra o avanço da igualdade dos gêneros. Como diz Hugheim (apud SGARBIERI, 2003), as mulheres é que, assumindo o poder e sem deixar de ser mulheres, tornarão o mundo de novo habitável.(p.125). Felizmente, o dínamo criativo das transformações é encubado nas entranhas do feminino de ambos os sexos.