terça-feira, 11 de outubro de 2011

Verdadeiro Afeto e Traição

Quem não foi traído já alguma vez ou, pelo menos, se sentiu assim?


Conhecemos a traição entre sócios de negócios, a traição da palavra quebrada e, principalmente, a mais corriqueira de todas, a "traição" nas relações afetivas e, intimamente ligada a esta, a "traição" de não cumprir as expectativas alheias.


É este o assunto que eu queria abordar: a traição ou, dito melhor, a suposta "traição" em relações afetivas.


Afeto não pode ser negócio, afeto não pode ser político, nem estratégico, não pode ser assegurado sob qualquer circunstância. Afeto, quando é novo e recente, resulta de alguma interação vibratória com outrem ou, quando é antigo, é fruto da memória. Afeto é simplesmente afeto, um sentimento, uma emoção, as vezes passageiro e volátil, as vezes sólido durante os tempos, é oriundo dos instintos naturais ou, na decorrência, memorização e mentalização. O afeto se manifesta no cio e na relação entre parentes ou amigos, tem a sua qualidade animalesca e também humana. São inexplicáveis os seus motivos quando psicológicos, regidos por elementos do inconsciente. A causa primeiríssima, porem, deve estar na bioquímica e nos hormônios, antes de se ter tornado psicológico, baseado, então, em experiencias anteriores e preferências formadas, criando, desta maneira, o Karma.


Pode-se trair contratos sobre termos objetivos, pode-se quebrar uma palavra dada, pode-se mudar de estratégia ou de política, porque alteraram-se as metas ou os contextos.


Porem, é impossível ser traído o verdadeiro afeto, pois ele não é racional, não há nele objetividade alguma. O verdadeiro afeto quando consciente, quando situado na dimensão do espírito, é sinónimo de Amor e Compaixão, é o cio transformado em condição espiritual. É por isso, que ele tende a ser estável depois de ter sido estabelecido firmemente no coração, e é por isso, que ele não pode ser traído. A sua verdadeira essência torna-se transpessoal no homem, uma maneira de ser, dom de pessoas espiritualmente evoluídas e ativas. A sua origem deve estar proveniente de afinidades bioquímicas, a sua flor, porem, é o Amor Universal na consciência do homem espiritualizado.


Como o Amor, o afeto não tem índole material, não é comparável a uma montanha de ouro: dividido e compartilhado com outros e muitos, ele aumenta, ganha volume, sentido e presença, harmoniza e abençoa. Monopolizado, quer dizer: recebido por alguém em estágio inferior da evolução da consciência, ele se torna objeto de posse, parece menos por ser dividido, causa ciúme e ódio, razão para querelas e desentendimentos intermináveis, inclusive os prejuízos materiais decorrentes.


O cio é do animal, o ouro é do Homem-Ego, o afeto é do espírito evoluído. Nós homens todos temos estas facções dentro de nós, em porcentagens e desenhos de retalho diferentes.


O que adianta acusar o parceiro de traição? Será que posso condiciona-lo aos meus limites ou limitações, ao meu projeto-Ego de vida ou à minha vaidade e o meu orgulho? O que se pode constatar no caso e na acusação de uma suposta traição é, que estão se relacionando dois seres em condições evolucionárias diferentes, juntados pela ação do Karma, para cada um apreender com o outro.


O ciumento deve apreender acerca da evolução espiritual e dos efeitos benéficos da transpessoalidade, o acusado deve conscientizar-se dos mesmos elementos e da sua própria posição, da onde partiu o motivo da "traição".


O Livre Arbítrio, como orientador de conduta, deve ser exercido com muita consciência, aplicando os mesmos critérios para avaliação e conduta a si próprio e ao próximo… O Livre Arbítrio, assumido com compaixão e responsabilidade é a suma expressão da liberdade humana.


A "traição" em si é um conceito racional, estágio intermediário na evolução mental. Quem si estima ser filho de Deus recebe de brinde o potencial do afeto, tanto para recebe-lo quanto para dar. Quem se arroga a aplicar as próprias deficiências evolucionárias e interesses imediatistas, seja de homem-materialista ou de homem-Ego (orgulhoso do suposto estágio de evolução já alcançado), causando sofrimento em outrem, que repare e fique mais humilde na avaliação da condição alheia e mais severo com si próprio, aceitando-se e objetivando-se como um ser em evolução: do animalesco ao Ego, do Ego à transcendência, da transcendência à nova realidade do Homem.


Bem aventurança espiritual, saúde física e suficiência material são os prêmios do Universo para o verdadeiro afeto, amadurecido durante os estágios evolucionários da alma e praticado sem evasivas.