sexta-feira, 4 de março de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte IX

Mas, partindo da premissa de que “todos os homens são iguais, e que mudam apenas de endereço”, então o que leva as mulheres se chocarem tanto com a traição dos parceiros? Às vezes, mesmo de posse de um histórico pouco confiável deles com as exs, o que as faz pensar que com elas seria diferente? Talvez uma “predisposição” romântica que superestima seu amor com poderes mágicos de transformação. Reminiscências do complexo de Cinderela, que a fazem imaginar em todo homem que desponta na sua vida o provável príncipe encantado. Não aceitam que, na maioria das vezes, não tem jeito, sapo é sapo mesmo, apesar de “milhões de beijos”.

Para Lipovetsky (2000), apesar de exaltar a igualdade e liberdade dos amantes, o amor não deixa de ser um dispositivo que se edificou socialmente a partir da desigualdade estrutural dos lugares dos homens e das mulheres. (p.21). Ou seja, mesmo com profissão definida e independência econômica, muita mulher mantém o desejo secreto de proteção, “a menina assustada” sob a capa da auto-suficiência e que por isso acata, de uma forma ou de outra, o domínio do macho. Para Nietzsche(1900-2004), através da idealização do amor, elas aumentam seu poder e se apresentam mais desejáveis aos olhos dos homens. Mais iludidas que os homens, por isso sofrem mais com a desilusão que quase, inevitavelmente, ocorre em sua vida. Nesta ótica, Bozon (2004), diz que sobre as razões que levam a ter relação sexual, os rapazes de 15 a 18 anos declaram desejo, atração ou curiosidade, enquanto as moças, em qualquer idade, indicam amor e carinho, e se declaram muito apaixonadas por seus parceiros. “Elas continuam maciçamente a sonhar com o grande amor, ainda que fora do casamento”(LIPOVETSKY, 2000:28).

Atualmente, me parece que muitas mulheres não estão mais tão românticas e passivas assim, aprenderam um pouco com os homens a ser “pele grossa”, e, com a “carta de alforria” da sexualidade, também tomam iniciativa e usam os homens como meros objetos sexuais. Para Acton (apud WRIGHT, 2006), a maioria das mulheres (felizmente para elas) não é muito perturbada por desejos sexuais de qualquer tipo. O desejo acha-se em estado latente, e mesmo quando despertado (o que em muitos casos jamais acontece) é muito moderado em comparação ao do homem - grifos do autor.(p.13). Não é por santidade que o desejo sexual da mulher não seja explícito, isto é resultado da repressão. Porém, muitas já se libertaram, ou não absorveram, por completo, o confisco da sua razão e sexualidade. Assim, quando no anonimato, isentas do julgamento do entorno, não se comportam nada pudicas, mas com a mesma voracidade e senso oportunista dos homens.

A favor da dominação masculina, se forjou os mitos da mulher frágil e de seu apetite sexual brando. Segundo Bauman (2006), para que um domínio se sustente, é preciso tornar, e manter, vulneráveis, inseguros e amedrontados os objetos humanos.(p.86). A fêmea tem o mesmo desejo sexual que o macho, mas de acordo com o que se convencionou de decência e de familiar. Ela aprendeu a disfarçar e reprimir desde os primórdios. Até por que seu gênero dificilmente é motivo de orgulho. Nenhum pai mostra a vagina da menina, não obstante faz questão de exibir, como um troféu, o “pintinho” do menino. Por exemplo, a atriz Isabel Fillardis disse sobre o filho: Ele é lindo, todo grande. Até as partes mais íntimas. Vai ser a alegria da mulherada. (Época, 2004:14). Com apenas 11 meses o bebê já recebeu o “carimbo” da divisão e o aval para a traição e supervalorização do pênis, no caso, grande, como objeto da alegria destinada, não a uma mulher - o que seria demais toda essa exuberância -, mas a várias, o genital “socializado”. Friedman (2002), salienta que o pênis é muito mais do que uma parte do corpo. É uma ideia e um símbolo, um sinal tão poderoso que é, ele próprio, simbolizado por outras coisas. (p.139).