sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte II

Beauvoir (s/d) entende que a mulher não nasce mulher, mas se torna. Afirmativa sem consistência e estranha vinda de uma mulher, mas que o mundo acadêmico acatou como verdade. Entendo o processo de maturação da mulher como linear e nítido: a menarca, na qual a menina passa a ser moça; a perda do hímen, quando se torna mulher; a maternidade, a plenitude enquanto fêmea e, a menorpausa, quando encerra seu ciclo de fertilidade. Embora, neste último estágio, a mulher não seja culturalmente muito valorizada enquanto objeto sexual. No entanto, é a fase da vida onde as pesquisas apontam que ela está menos inculcada e mais ciente do próprio corpo e, como consequência, despojada para o prazer sexual. Diferente da mulher, além das características secundárias, o homem não passa por estágios bem demarcados que fortaleçam suas referências de gênero. Ao ingressar na vida sexual, estará, para sempre, sob o espectro da impotência sexual, flagelo que culmina na andropausa. Portanto, a masculinidade se constitui numa construção, não definitiva, mas, inacabada e, por vezes, insustentável.

No entender de Hegel (apud LIPOVETSKY, 2000) a subjetividade masculina se constrói no conflito inter-humano tendo em vista o reconhecimento e o prestígio.(p.305). Diria que o homem é, essencialmente, um ser em “falta”, inseguro, e por isto mesmo ele trai para se certificar da sua macheza, além do que separa sexo de afeto, e é livre para trair, pois as sociedades, devido a sua dupla moral, o autoriza. Baudrillard (2001) considera que o masculino sempre foi apenas residual, uma formação secundária e frágil que é preciso defender à força de supressões, de instituições e de artifícios.(p.21). Para assegurar a masculinidade, povos primitivos, a exemplo dos Sambia da Nova Guiné, submetem os adolescentes a ritos de passagem de extrema violência. Saturam seus limites físicos e os torturam para eliminar os fluidos femininos. Os fazem absorver o líquido masculino (esperma), para se tornarem machos (BADINTER, 1993), de forma bastante agressiva para provocar repulsa ao mesmo sexo.

O jovem urbano não passa por esses rituais, mas, não deixa de ser submetido a coerções diretas e as violências simbólicas no apartheid da identificação. Desde pequenos os meninos são obrigados a abandonar, sob pena de serem discriminados, toda e qualquer atitude que faça lembrar o feminino. Isto é, que não afirme ou confirme sua condição de macho. Brincar de boneca, nem pensar! Para o senso comum é a condição sine qua non, para a homossexualidade, ou seja, determinante. Esta, também é uma construção e não decorre, apenas, de atos isolados, mas, da conjunção de aspectos da dinâmica familiar e cultural, mas nunca de fatores restritamente biológicos. O preconceito, de tão arraigado, faz com que, o uso de brinco e cabelo comprido, pelos homens, embora frequentes nos nossos dias, ainda se lance “olhares meio atravessados” sobre sua masculinidade.

Lipovetsky (2000) entende que o feminino permanece fortemente orientado para o relacional, o psicológico, o íntimo, as preocupações afetivas, domésticas e estéticas; o masculino, para a “instrumentalidade”, o tecnocientífico, mas também para a violência e o poder.(p.303).  Na realidade, a masculinidade é uma couraça, homem não pode ser suave, não pode amolecer, tem que ser “pele grossa” – indivíduos de estrutura narcísica que se tornam insensíveis a sentimentos mais profundos.(ROSENFELD apud BRITTON, 2003). Sensibilidade é tida como coisa de mulher e de homossexual, entrar em contato com o seu sensível é arriscar a desmontar-se enquanto macho, perder esse poder. Um medo, na verdade infundado, de que venha a se efeminar.