terça-feira, 1 de março de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte VI

Comumente, macho nenhum expõe seus reais sentimentos para mulher alguma, ou, talvez, para ninguém, pelo menos pelas vias diretas. Portanto, ele apenas diz aquilo que lhe interessa ou através do qual tire proveito. Uma vez que, na sua cabeça “abrir-se” pode ser traduzido como fraqueza. Mas tem mulher que, diferente da vontade de um diálogo espontâneo e troca de ideias, pretende se apossar da cartografia mental do outro. Por insegurança ou por desejo de domínio e manipulação, irrita o companheiro, quer saber tudo, em minúcias, o que ele sente por ela e/ou o que pensa a seu respeito. Uma necessidade meio compulsiva de ouvir constantes feedbacks sobre esse amor que lhe dedica o parceiro.

 Feito “saco sem fundo”, é raro que ela fique satisfeita, a saída do homem é, num tom “insuspeito” de qualquer incongruência, lançar a clássica frase: “Se não gostasse ou não te amasse não estaria com você!”. Enfim, resta distinguir se isso faz parte da habitual dificuldade masculina para falar dos afetos ou se é pura embromação. Mas, declarar-se meio reticente ou pouco afirmativo, é natural que gere algum nível de insegurança. Do contrário, a mulher não precisa de um amante, mas de um “pai” para lhe acalentar. Estratégicas, muitas mulheres são só usam a gravidez, mas também, maternam seus parceiros como se filhos fossem, na esperança de que, assim, os mesmos não tenham “olhos” para outra(s).

A presença física do macho, para ele mesmo, já é o suficiente, uma vez que se julga objeto de cobiça, assim a mulher que estiver com ele é a “privilegiada”. Portanto, tem que lhe render reverências. Por vezes, ele cria situações para que seja ou pareça ser disputado. Todavia, para a mulher a presença, por si só, não quer dizer muito, tem que falar, comungar intimidades. Parece pouco confiante na própria avaliação que faz do sentimento do outro. Onde está o seu tal sexto sentido? Um sujeito sem escrúpulo pode aproveita-se dessa carência. Como diz Biddulph (2003), alguns homens têm um desejo patológico de ferir e dominar.(p.63). O homem, mais “econômico”, direto, se certifica do amor que lhe cabe e fica tranquilo. Por vezes, tenho que chamar a atenção das pacientes para as expressões sutis ou não verbais de bem querer dos seus parceiros.

No macho, em termos de sexualidade, “nada pega”, do contrário, como já foi visto, o enaltece. A moral sexual manifesta-se segundo um duplo padrão social: indulgência com as extravagâncias masculinas, e um olhar muito severo quando diz respeito às mulheres. (LIPOVETSKY, 2000, BOZON, 2004). Isto é reforçado por Wright (2006), quando afirma que os homens foram desenhados, por um lado, para serem sexualmente livres, mas, por outro, para relegar a uma posição moral inferior as mulheres sexualmente livres “prostitutas”- grifo do autor.(p.124). É notável a facilidade com a qual a mulher é rotulada de vadia, etc., nem precisa que ela seja devassa igual ao homem, ou que se envolva por dinheiro, mas que se aproxime do estilo sexual de ser o masculino. Beauvoir (s/d) diz que ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade.(p.19).

A conduta opositora de “dama na sociedade” e “puta na cama” é uma danosa deturpação que inscreve o sexo casto no domínio do privado, e a livre expressão da sexualidade no domínio público promíscuo e/ou pago. Segundo Wright (idem) em sua forma extrema, patológica - o complexo santa-prostituta -, a dicotomização da mulher deixa o homem incapaz de fazer sexo com a esposa, de tão santa ela lhe parece - grifo do autor. (p.55). O homem é a medida de todas as coisas, dizem isto às mulheres desde a época áurea da Grécia (FRIEDMAN, 2002). Porém, não há a inveja do órgão masculino que Freud quis impor, “mas, das oportunidades, das conquistas, do que foi dificultado ou impedido às mulheres”(MONTEIRO, 1998).