domingo, 6 de março de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte XI

Para o macho, ter várias mulheres pode lhe servir como escudo para sua dependência afetiva, o que vem a calhar com a fissura que o resguarda da ameaça de partilhar seu interior. Isto é, está com todas, mas não se entrega a ninguém. Para Simmel, a sexualidade masculina é centrífuga, a partir desta perspicácia Goldenberg (2004), diz que os homens teriam relações sexuais com mais parceiras porque não se relacionam com uma única mulher, mas com a mulher em geral.(p.59). Somente haveria constrangimento para o homem adúltero se o mesmo fosse submetido aos crivos proibitivos da moral que rege a sexualidade feminina. No entender de Pasini (2006) e Wright (2006), a traição masculina é mais aceita, e a feminina ainda é um tabu, porém, com tantas conquistas das mulheres isso não faz mais sentido, e os homens estão cada vez mais ciumentos. O ciúme deles se centra na infidelidade sexual, e o delas na infidelidade emocional. Em minha opinião, devido a sua atual independência, as mulheres estão se autorizando à infidelidade, já não se permitem padecer na carência afetiva/sexual, ou na cumplicidade mantenedora de relacionamentos “mortos”.

Algumas mulheres para comprovar seu amor, entregam o que considero “chicote ou forca”, deixa explicito ou subentendido para o parceiro sua aguerrida fidelidade canina, e a disposição de restringir a sua liberdade pela relação. Nessa jura de amor incondicional, os elegem como absolutos, e os colocam no “palco” da sua existência sob os “holofotes” de suas emoções e dedicação exclusivas. Porém, é preciso respeito pelo humano (homem ou mulher) para não abusar desse lugar em que foi colocado, ou melhor, pinçado do anonimato para ser “celebridade” na vida do outro. Se isto pode fazer a mulher arrogada, ao macho muito mais, porque além de se achar o máximo, foge das emoções e da intimidade (muito mais do que corpos nus na cama). É preciso um mínimo de estrutura emocional e moral para suportar-se nesse centro, ser a “figura” sem bagunçar o “coreto” do outro ou deixá-lo como “fundo”. Os machos são mais prudentes ou são mais omissos, não se comprometem, quase nunca deixam claro que essa mulher é única ou é a razão da sua vida. Saem pela tangente, ou quando fazem, não é raro que seja com objetivo de sedução.

Embora as mulheres exijam mais provas de amor, no entanto, tendem mais a perdoarem as estripulias dos parceiros. Como diz Wright (2006) as mulheres, aceitam viver com o companheiro que as traiu com maior facilidade que os homens.(p.121). Algumas mulheres parecem tolerar mais a “divisão” do parceiro com uma outra, do que com a própria família deste. Na arena das disputas e implicâncias entre sogra e nora, há algo de insano de ambas as partes que se fecha para negociar seu “objeto”: filho/marido, etc. A ciência parece ignorar esta questão, enquanto a cultura apimenta como folcloricamente natural. Alguns homens e, principalmente, algumas mulheres chegam a ser odiosos com as sogras, pelos menos eles dão a essa perseguição “canibal”, que também é recíproca, nuanças de humor.

Os homens têm dificuldade de conviver com o saber de que foram traídos. Para o macho trair é banal, e até reconfortante, podem até sentir culpa, mas é devido ao medo de abrir precedente. Mas quando traído, sua imagem é comprometida, pois o “olhar” público o tem como desmoralizado, e sob a suspeita da incompetente sexual, e assim, passa a ser, o que é bastante desumano, motivo de chacota. O homem também não tem nenhuma garantia de que não venha a ser traído, apenas a probabilidade de que isso não ocorre com tanta frequência. Uma vez que a providencial máquina da opressão, que transpassa os séculos, cuida de manter as “rédeas curtas” no feminino.