quarta-feira, 2 de março de 2011

O Homem, seu 'direito' de Trair, e a Mulher Adúltera - Parte VII

Enfim, a dupla moral social permite que o homem se aproprie da “puta” e da “santa”(NUNES, 2000). Daí o dilema das moças que, se por um lado “mostrarem-se recatadas”, podem não agradar; por outro lado, se “desinibirem-se”, poderão ser julgadas ou “usadas”, e nunca mais procuradas. Acredito que, nesse caso, a maior ressonância do preconceito é o que vem da mulher. Há uma tendência do parceiro a desqualificá-la ou a valorizá-la em consequência da sua maneira de encarar a própria sexualidade. Cabe ressaltar que respeito não é sinônimo de repressão, restrição ou “trava” na expressão do desejo sexual. Como diz M. Yourcenar: casto, é todo prazer sentido com gosto. Devido ao conceito judaico-cristão de sexo não reprodutivo como pecado, parece difícil, principalmente, para mulher se desvencilhar do tributo da culpa. Sempre tem, nem que seja um “filete”, esta suposta maldição, mesmo nas que se consideram liberais.
Posadas (2001) diz, mas não vamos pensar que as mulheres são sempre umas pobres vítimas, umas bonequinhas entreguem de corpo e alma ao homem que se apossou de seu coração.(p.83). No entanto, não tem como negar que as cobranças sobre as mulheres, de tão gritantes beiram à perversidade, ceifam sua autonomia e lhes conferem “donos”: pai, irmão, marido. Muitas aceitam essa “coleira” de castração. O que se deduz que haja um ganho, pelo menos, secundário. Certamente a ilusão de que assim são amadas e estão protegidas. O quase sempre sábio Freud (1917-1989) diz que “a repressão sexual sobre a mulher teria como meta fixá-la a um único homem, para garantir o sucesso do casamento através da sua monogamia”. Talvez, o fato de considerar as emoções, sexo e amor integrados, não sejam tão inatos assim, mas produto dessa dominação. Somente na certeza do amor do parceiro é que ela, de fato, se libera das rédeas castas, e o sexo termina sendo uma extensão da expressão do seu amor. Desse modo, mesmo que enverede pelo sexo libertino, pelo menos de início, não será tão simples desprezar essa ordem.
Pelo exposto é possível considerar que, nenhuma mulher, por mais “completa” que seja: bonita, corpo escultural, personalidade integra, esteja isenta da traição. Porque a traição, não decorre das suas faltas ou falhas. Mas da aprovação e incentivo da cultura a uma sexualidade irresponsável, promíscua para o homem, que julga, assim, honrar sua condição de macho. Para Muraro (2002), o corpo do homem é fragmentado. Por causa dessa divisão não se joga inteiro em nada (passim). Quando o homem ama, seu amor não exclui a infidelidade. Deve-se lembrar que a paixão, apesar de fugaz, ela é mais intensa que o amor. A fissura no homem o permite transitar no prazer sexual sem culpa. Embora seja isso corrente, não obstante, é um exagero atestar que ele nunca esteja inteiro. O que seria desconhecer sua aptidão para se apaixonar por uma pessoa, um projeto.
Segundo Derrida (2004), a paixão amorosa é, pois, a perversão da piedade natural. Diferentemente desta, ela limita nosso apego a um único ser. (p.214). Todavia, quando o homem se apaixona ou se torna dependente sexual, perde quase toda racionalidade, deixa de enxergar o óbvio. A mulher na mesma situação se mantém questionadora e maliciosa, embora, nem sempre, tenha mais condição de tomar decisões. O macho compulsório sexual não se preocupa em gerar filho(s), ignora prováveis sentimentos da parceira, e, quando se trata do eventual, pode até esquecê-la, antes que ela se recomponha. Para o macho, o contrário é verdadeiro, pois detesta ser usado, e é sensível para perceber-se na posição de objeto sexual, até porque essa é a sua praxe para com o (s) outro (s).

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